Práticas Agroecológicas

A importância da Agroecologia na dieta alimentar das comunidades rurais

Relato enviado por Mariana Augusta de Almeida João Moita

Contextualização da localidade da experiência

A aldeia de Kingles dista a 45 km da sede do município de Malanje e a 19 km da comuna do Lombe. Esta pertence administrativamente ao município de Cacuso, estando localizada na regedoria Ngola Mbande da comuna supracitada, na província de Malanje e no país Angola, tem como habitantes mais de 380 cidadãos agrupados em 142 famílias. Esta comunidade tem como principais actividades a agricultura e no período de seca opta pelo trabalho na linha das hortaliças (berinjela, tomate, pimento, repolho, couve) e outras.

Existe nesta comunidade uma associação organizada de camponeses que conta com apoios externos de instituições públicas e privadas para desenvolver as suas actividades agrícolas e não agrícolas.  O grupo na região é um dos poucos pequenos produtores que opta pela produção de horticolas sem o uso de agroquímicos a mais de 9 anos e isto tem refletido de forma positiva nas suas fontes de renda e na dieta das populações internas e externas a aldeia.

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Descrição da experiência

A experiência vem sendo desenvolvida desde 2011 na aldeia do Kingles e no período de 2012 a 2016 foi expandida para 9 aldeias da comuna,  a pratica da produção de hortícolas sem o uso de agroquímicos foi se espalhando por varias comunidades, para o desenvolvimento desta pratica a comunidade conta com o apoio de técnicos pertencentes a instituições publicas e ONG, que apoio os produtores fazendo recurso a metodologia das escolas no capo do agricultor (ECAs). Para o desenvolvimento desta experiência estão envolvidos 13M e 6M pertencentes a uma associação denominada Palanca Negra.

A pratica embora sendo feita em pequenos sistemas tem tido uma aceitação favorável por parte das famílias beneficiarias directas do processo, tendo em conta que dos seus depoimentos isto tem contribuindo não apenas para a melhoria da dieta alimentas, o que de certa forma reflete na nutrição dos filhos(saúde) mais também reflete-se na renda das suas famílias. Embora a dificuldade de acesso as sementes tem estado na base da produção em pequenas escalas, a não valorização dos produtos agroecológicos pelos compradores também desmotivam as famílias uma vez que os compradores preferem quantidade e não qualidade mesmo em muitos casos conhecendo as desvantagens dos alimentos produzidos com agroquímicos. 

Os produtores continuam a optar pela pratica mesmo em pequenas areas porque defendem que os gastos são inferiores aos que tinham quando produziam contando com os químicos para fortalecimento dos solos e combate as pragas pos alem de gastarem na compra de sementes tinham também de gastar com os fertilizantes que quando não fossem aplicados comprometiam a produção. Hoje que conhecem a importância do restolho para o fortalecimento dos solos, o uso de plantas locais (mululu, cafoto, mucuna, cinza, gindungo) para a produção de biol que ajuda no combate as pragas, os únicos gastos prendem-se com a compra de sementes e os taxis para o escoamento dos produtos ao mercado e acreditam que com a insistência e mais apoios para o alargamento das suas areas poderão vir a atender melhor o mercado e levar os compradores a valorizarem a pratica pos segundo Andrade Hebo, coordenador de uma associação alega que a persistência dos produtores nesta pratica poderá influenciar a valorização dos produtos ecológicos ao nível local. Tendo em conta que já existem compradores que ligam-lhes para efectuar a compra na comunidade.

Já a dona Teresa, chefe de campo da associação Palanca Negra diz que hoje controlam melhor a produção tendo em conta que as formas de tratamento e controle das plantas depende de produtos locais que eles dominam, o que valoriza o seu conhecimento e fruto disto já partilham a sua experiência com outras localidades que estão a optar pela produção sem agroquímico, e o facto de serem muitas mulheres envolvidas no processo sentem que ha maior valorização do processo pelas comunidades vizinhas.

 

Conclusão/próximos passos

Para a experiência em geral e tendo em conta que a questão da agroecologia ao nível do país começa a ser trabalhada em algumas áreas embora de forma tímida, achamos ser importante a facilitação no acesso a informação por parte dos pequenos produtores para que estes começam a ver a questão da agroecologia como modelo importante na agricultura sustentável e de qualidade, olhando para a sua dieta alimentar e também para o atendimento ao mercado interno. 

Sendo que nos últimos anos em Angola está-se a trabalhar a questão das escolas no campo do agricultor, esta metodologia tem como fim ultimo influenciar a não aplicação de agroquímicos nos pequenos sistemas de produção dos agricultores, além de partilhar técnicas que ajudam o aumento das áreas de produção, é importante que o poder público comece a identificar Projectos que vão garantir o acesso das famílias a sementes de qualidade e outros meios de produção para o aumento das suas áreas e a produção com qualidade, além disto é importante que se trabalhe no apoio ao contacto dos produtores com os empresários locais para facilitar a venda e escoamento da produção olhando para a valorização do esforço dos produtores.

E importante que sejam criadas politicas especificas de apoio as pequenas iniciativas ao nível do meio rural (acesso ao credito, imputes para criação de pequenos bancos de sementes, sessões de capacitação técnica). Mais do que isto há importância de se começar a influenciar a criação de bancos de sementes que vão salvaguardar a conservação de sementes nativas pertencentes as famílias.

Pensamos que a temática agricultura está associada a várias questões e dentre elas a questão ambiental particularmente a valorização e conservação dos solos, em Angola a problemática queimada descontrolada é acentuada o que de certa medida têm impactado  de forma negativa a qualidade da colheita, achamos ser importante que sejam de forma regular realizadas reflexões com as famílias produtores sobre as desvantagens das queimadas para a degradação e empobrecimento dos solos, em Angola são poucas as comunidades que durante a preparação dos solos não optam pela queimada.

Uma chamada de atenção vai aos técnicos de extensão rural, no sentido de valorizar mas o conhecimento local das comunidades principalmente no que concerne ao uso de plantas naturais para o controlo de pragas e doenças em várias comunidades, uma grande experiência nesta linha vai as comunidades do Lombe que para o controlo de pragas na ausência de pesticidas químicos, fazem o uso de plantas (cafoto, mululu) e outras para controlar os ataques as plantas.

Após a participação nesta formação pensamos em partilhar o apreendido com o grupo de trabalho e com as mais de 51 associações de camponeses com que trabalhamos para que o conhecimento abranja mais pessoas e comece a ser conhecida por vários. 

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