Práticas Agroecológicas

Demonstração culinária de bolos

Relato enviado por Verona Salezia1

Contextualização da localidade da experiência

No âmbito do ofício das actividades laborais, tive a nobre experiência de facilitar conhecimentos para a confecção de refeições nutritivas à base de materiais localmente disponíveis no distrito de Moamba, na Província de Maputo, em Moçambique. Este é um distrito situado na parte norte da província de Maputo. A superfície do distrito é de 4.589 km² e a sua população está estimada em 64.147 habitantes, dos quais 19.172 pertencem à localidade da Moamba-Sede, o qual apresenta uma densidade populacional aproximada de 13.1 hab/km². 

O desordenamento territorial, fraca rede de abastecimento de água, insuficiência de meios circulantes em todos serviços públicos e a degradação das vias de acesso caracterizam os desafios encontrados no distrito de Moamba. 

O distrito possui cerca de 10.500 explorações agrícolas com uma área média de 1.5 hectare, sendo cerca de 85% ocupadas com a exploração de culturas alimentares. Os terrenos neste distrito são explorados em regime familiar, têm como responsável o homem da família, apesar de na maioria dos casos ser explorada por mulheres a trabalharem sozinhas ou com a ajuda das crianças da família. A maioria da terra é explorada em regime de consociação de culturas alimentares.

Descrição da experiência

Neste caso concreto, estive em contacto com membros de uma associação agrícola do Distrito acima mencionado, os quais beneficiam-se de apoio técnico e logístico para a produção Agroecológica. 

O apoio não cinge-se apenas na provisão de sementes e instrumentos de trabalho, é igualmente facilitado o acesso a terra, legalização das associações, à água para rega pela abertura ou construção de fontes assim como a revitalização das obsoletas e o acompanhamento técnico regular na implementação das técnicas de produção Agroecológica, o qual inclui capacitações técnicas no campo. 

Foram, no entanto, produzidos no dia em análise, um bolo de batata-doce de polpa alaranjada e sumo de laranja com cenoura e uma geleia de banana com tamarindo. 

Para a realização das oficinas culinárias, são mobilizados recursos humanos e materiais da comunidade visada, sendo que cada participante foi convidado a contribuir com o que tivesse para a materialização do programado. Assim, os associados (na sua maioria mulheres), organizaram-se e levaram até ao local, utensílios de cozinha como panelas, colheres de pau, tigelas, pratos, copos e outros e ainda disponibilizaram das suas machambas (plantações), boa parte dos ingredientes que foram usados. 

Uma vez que esta actividade é realizada ao ar livre e em comunidades rurais onde o acesso à corrente eléctrica é deficiente, não foram usados equipamentos eléctricos como o liquidificador ou varinha mágica, estes foram substituídos por raspadores e moedores manuais rudimentares, o que garante que as comunidades não sejam apenas espectadoras, pois percebem que com os materiais locais é possível ter óptimos resultados culinários e sobretudo nutritivos, o que aumenta a probabilidade de serem realizadas réplicas das receitas ao nível dos agregados familiares. 

Para a produção do sumo de laranjas e cenoura, foram usados apenas os dois ingredientes, sendo que não foi necessária a adição de açúcar. O procedimento resumiu-se em raspar 500g de cenoura e adicionar ao suco coado de trita (30) laranjas previamente espremidas. Uma vez que o sumo seria consumido de imediato, os ingredientes não foram branqueados. 

Misturando-se batata-doce pré cozinhada, ovos, óleo, açúcar, farinha de trigo limão e fermento em pó, foi produzido o bolo, sendo que o forno foi localmente adaptado com lenha, panelas e areia. 

A geleia de banana consistiu na mistura da fruta, com tamarindo e uma pequena quantidade de açúcar (o qual facilita a aparência gelatinosa). 

Todos os passos para a produção do descrito acima foram protagonizados pelos membros da associação, sendo que a minha função era apenas de explicar o procedimento, acompanhar cada momento e aproveitar para fazer a educação nutricional. Assim tem sido em todas as oficinas realizadas.

Lembre-se que, apenas o óleo, o açúcar e a farinha de trigo foram comprados, o restante material foi obtido nas plantações da associação. 

Após a produção, todos os membros associados foram convidados a degustar de tudo quanto foi preparado e fazer a sua avaliação. 

Felizmente, a apreciação dos participantes foi positiva, alguns membros mostravam-se entusiasmados com as explicações assim como com o produto final.

Imagem 1. Bolo em processo de cozedura na lenha. 

1 Local de trabalho: Rede de Organizações para a Soberania Alimentar (ROSA).