Práticas Agroecológicas

Cultivo da Pimenta associada à produção de culturas alimentares e frutícolas

Relato enviado por Celso Carlos Garrido de Sousa Pontes

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Contextualização da localidade da experiência

Os sectores da Agricultura, Pecuária, Floresta representam cerca de 65% da força de trabalho ativa de São Tomé e Príncipe, e onde também a pobreza está mais concentrada, envolvendo cerca de 70% da população rural.

Em STP existem aproximadamente 12.000 agricultores e estima-se que a atividade agrícola é praticada numa área aproximadamente de 41367 hectares de terra. A agricultura, pecuária e florestas contribuem com cerca de 14 a 16% do PIB. As principais culturas de exportações são cacau, café e pimenta, com destaque para o cacau que constitui ainda cerca de 90% das exportações do país. No contexto actual do sistema de produção agropecuário, a produção de bens alimentares está sobretudo a cargo da pequena agricultura familiar e de médias empresas privadas mediante o estabelecimento de sistemas de produção de baixo nível tecnológico, orientados de modo geral, à subsistência. O sector debate-se com falta de meios para assegurar um aumento quantitativo e qualitativo da produção, apesar das condições edafo-climaticas favoráveis do país. Neste sentido tenho desenvolvido na minha parcela situada no distrito de Cantagalo, mais concretamente em Quimpo II a 20 Kl da Capital São Tomé, um projeto de cultivo da pimenta biológica como cultivo principal, no sistema associado a culturas alimentares principalmente com a (plantação de banana pão, mandioca, matabala, gengibre, goiaba e limão) aproveitando muito bem os 2,5 ha de terra que possuo, garantindo assim a diversificação cultural e a produção de alimentos de alta qualidade dado que a minha parcela está certificada pela uma certificadora Internacional de nome ECOCERT. 

Esta aposta no cultivo da pimenta biológica se deve a que ela oferece vantagem comparativa de ponto de vista económico devido o seu alto valor no mercado internacional e a qualidade que a mesma apresenta. Como produtor da pimenta bio, faço parte da cooperativa de exportação pimenta Biológica (CEPIBA), constituída por cerca de 479 agricultores de 26 comunidades agrícolas, entre homens e mulheres, com uma área cultivada de aproximadamente 70ha e a produção anual ronda 23 toneladas de pimenta seca, mas que ainda não é a produção desejada pelos seus membros, a desejável seria atingir ao menos atingir 60 toneladas de pimenta bio. A pimenta de STP é um produto de elevada qualidade, goza de boa reputação internacional, contudo, a quantidade produzida não tem estado a corresponder à procura e às expectativas dos mercados. Daí que estou fortemente empenhado a intensificar da produção da pimenta bio, procurando alternativas que me permitem intensificar, massificar, rentabilizar a terra de cultivo por melhorando o seu rendimento médio por hectare e elevar o nível da produção das outras culturas aí implementadas. Tudo isto no modelo agroecológico, garantindo a segurança alimentar e nutricional da minha família.

Descrição da experiência

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Esta experiência que desenvolvo há mais de 15 anos teve como objetivo principal aumentar a produção e a produtividade da plantação de pimenta na parcela, elevar o rendimento da mesma e melhorar a minha condição económica e famílias, através do fortalecimento da fileira de pimenta biológica, desenvolvendo a atividade agroecológica sustentável. Neste momento, tenho desenvolvido mais um campo novo de plantação de mais 1 hectare de pimenta, adquirindo mais de 5000 plantas e 2500 tutores que servem do suporte às plantas. Este novo campo também esta sendo plantado em associação com outras especiarias, culturas alimentares, frutícolas e árvores de valor comercial. Por outro lado, pretendo igualmente reforçar a capacidade técnica dos familiares que trabalham comigo, através de formação continua em matéria de agroecologia (formação/ação) tendo sempre presente a conservação do solo, água e biodiversidade. Garantir o seguimento técnico permanente, assim como a construção de novas infraestruturas de apoio à irrigação. Esta produção familiar que tem na sua totalidade 3,5 hectares cultivada, numas zonas agroecológicas potenciais para desenvolvimento adequado da agricultura, tenho desenvolvido ao longo destes anos boas técnicas de agroecologia sustentável, desenvolvendo os sistemas de produção intensivo mas em associação de cultivos como gengibre, açafrão, plantas de bananeiras, matabala e árvores de fruto e sombra de valor comercial que favorecem uma maior integração, melhor sustentabilidade, maior organização e maior eficiência técnica. Para a sua concretização, tive assistência técnica de parceiros que apoiaram financeiramente em material de trabalho e vegetal, formação como são os casos da Cooperativa CEPIBA, a ONG ADAPPA, que possuem o Know-How em matéria de produção agroecológica e de agro-processamento da pimenta.

Conclusão/próximos passos

Tendo em conta os trabalhos realizados, devo dizer que vi a minha produção de pimenta aumentada neste ano de 1,5 toneladas de pimenta Bio para 4 toneladas, para os próximos anos a tendência é sempre ir aumentar até se estabilizar; consequentemente aumentada também o volume de entrega da produção à cooperativa de exportações de pimenta (CEPIBA), a 90%, 10% vendido no mercado local.

Também vi aumentada a produção de cultivos alimentares como (banana pão, limão e goiaba). Para o próximo ano terei maior produção, já que estarei colhendo mandioca e matabala que são cultivos anuais.  

Núcleo familiar melhor qualificado e tecnicamente bem preparados na implementação da estratégia;

Condições económicas e sociais da família melhoradas;

Para se atingir e garantir os bons resultados, preconizo introduzir as novas tecnologias de produção de pimenta e com recurso a água (construção para captação da água de rio, água da chuva, etc..), para além da garantia do material vegetal de qualidade, infraestruturas adaptadas para rega, materiais necessários para implementação do sistema de rega gota a gota serão necessários. Por outro lado, torna-se indispensável elaborar um estudo prévio de análise de viabilidade técnico-económica do plano/projeto, para que o mesmo possa ser desenvolvido numa base sólida e de forma sustentável.

Sustentabilidade

Este ação enquadra-se no âmbito do chamado o 3º sector (economia social), uma vez que está assente também na partilha de dividendos, pois os lucros são redistribuídos pelo núcleo familiar e para concretização das suas necessidades. A estratégia passará no futuro pela criação de uma empresa familiar de produção agropecuária que irá trabalhar em estreita colaboração com outros parceiros que apoiam este tipo de iniciativas, consolidar relação com cooperativa já existente que ajudará na comercialização do produto fundamental que é a pimenta biológica, reforçando o fornecimento de produtos de qualidade ao mercado externo, assim como a presença no mercado. 

Por outro lado, a minha atividade contempla também uma visão ambiental, na possibilidade de promover uso de novas tecnologias agrícolas, energia solar, equipamentos utilização da matéria orgânica, restos vegetais, excremento de animal que contribuem para garantir a sustentabilidade ambiental. 

Embora este processo já exista há aproximadamente 15 anos, a sua efetiva melhoria tem acontecido nestes dois últimos anos, por isso, prevejo, por exemplo, para a próxima fase, a plantação de mas 1 hectare de pimenta ao que corresponderá a um aumento de 7 toneladas de pimenta seca em 5 anos, assim como outros cultivos que também contribuíram para melhoria económica familiar.