Práticas Agroecológicas

Dia de campo sobre ensilagem e fenação no assentamento Fortuna, no município de Cuité, Paraíba, Brasil. 

Relato submetido por Celina da Silva Maranhão 

Contextualização da localidade da experiência

Um dos principais problemas enfrentados em regiões semiáridas é a escassez de água, seja em quantidade ou em qualidade. Para o desenvolvimento econômico e social em comunidades rurais, com o decorrer do tempo, a região semiárida enfrenta este período de estiagem de 18 a 20 anos a cada 100 anos (ANGELOTTI;SÁ;MELO, 2009). Entretanto, nos curtos períodos de chuva, os produtores rurais não utilizam de forma eficiente, seja para acúmulo de água ou produção agrícola e animal. O fator agravante é que em regiões semiáridas, a precipitação pluviométrica média anual é inferior a 800 milímetros, o índice de aridez é de até 0,5 calculado pela razão da precipitação e da evapotranspiração potencial, e o risco de seca é de 60% (ANGELOTTI; SÁ; MELO,2009. Desta forma a utilização de estratégias de convivência com períodos de estiagem pode ser adotada para minimizar os danos causados por secas prolongadas. Minha experiência é sobre tecnologias de convivência com a seca, sendo que foram utilizados duas tecnologias ao longo deste processo: a ensilagem e a fenação de plantas nativas da região. Esta iniciativa  aconteceu no ano de 2018 quando estava concluindo minha graduação em  Agroecologia, eu escolhi fazer o meu TCC com este tema e  desenvolver o trabalho  no assentamento rural Fortuna 1 e 2 no município de Cuité, no qual sou assentada e líder. Recebi o apoio do professor do IFPB campus Picuí  Montesquieu Vieira  para organizar o evento “Dia de campo: conservação e armazenamento de forragens”. O evento contribuiu para mudar para melhor a vida dos agricultores que participaram,  resultado que é fruto do meu objetivo ao iniciar os estudos: poder ajudar os meus colegas agricultores com assistência técnica e extensão rural para aumentar a produção de alimentos, porque sempre convivi com  a  triste realidade da fome.  Escolhi aprofundar o tema das tecnologias de convivência com a seca com o uso de forragens e ensilagem e fenação de plantas nativas para os animais porque a produção animal é considerada a mais lucrativa aqui na nossa região, porém também a que enfrenta mais dificuldades por falta de forragens principalmente  nos últimos meses do ano pois enfrentamos logos perdidos de estiagem. Nossa região é localizada no semiárido nordestino brasileiro, e além do clima, existem diversas limitações, como por exemplo, áreas com poucos hectares, falta de assistência técnica, apoio e valorização por parte do poder público Federal, estadual e municipal,

Descrição da experiência

Organizamos o dia de campo no assentamento rural e utilizamos  a tecnologia de ensilagem em sacos plásticos e cilindro, fazendo o uso de plantas nativas da região.  Nesse dia foi utilizado maniçoba e  também teve a amostra de ensilagem e fenação de marmeleiro, e foi muito positivo porque aqueles produtores aprenderam e  continuaram a produção da ensilagem, fazendo todos os anos. Passaram também a armazenar palhas de milho de  feijão e demais safras agrícolas; plantaram palma resistente a  cochonilha do carmim;  e quando termina o período de estiagem eles ainda têm reserva de forragens  para alimentar os animais e começam a fazer ensilagem para mais um ano,  pois no período chuvoso existe uma grande oferta de forragens da vegetação nativa. 

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Conclusão e próximos passos

No que se refere à base técnica, a orientação é colocar a tecnologia a favor do ser humano, e não o contrário. Ou seja, utilizá-la para proteger e perpetuar os recursos naturais e principalmente diminuir os custos de produção através da utilização de insumos e métodos agroecológicos (SCOPINHO, 2006). O sucesso dos sistemas de criação no semiárido nordestino dependem em grande parte das condições climáticas para que ocorra uma produção satisfatória de forragens para a nutrição animal, no entanto, os baixos índices pluviométricos nos últimos 8 anos impossibilitaram o cultivo dessas espécies forrageiras. Enquanto isso, nos meses em que as precipitações concentram-se de março a maio, há uma grande produção de fito massa de forragens nativas, sendo grande parte perdida e que poderia ser utilizada na produção de feno e silagem. A convivência representa uma nova lógica de pensar, agir e conduzir os debates acerca de um modelo de desenvolvimento apropriado para o semiárido (CARVALHO, 2010). A noção de convivência com o semiárido não representa apenas uma resposta a estiagem, ela incorpora modos e técnicas de saber-fazer capitaneadas por governos, organizações locais e atores locais que reflete contextos socioespaciais específicos e interesse em disputa em torno da questão do desenvolvimento (NASCIMENTO, 2008).

Mesmo trabalhando com diversas culturas agrícolas, e espécies animais, sendo o maior percentual de aves, ficou evidente que a preferência dos produtores do assentamento Fortuna é pela criação de ruminantes destacando-se bovinos e ovinos, o fator limitante destacado foi a dificuldade de criação, principalmente pela pequena área para criação e forragens insuficientes para alimentar os rebanhos durante o período de estiagem. Através desse trabalho pode-se perceber que as práticas de beneficiamento e armazenamento de forragens são alternativas viáveis para a segurança alimentar dos rebanhos. As técnicas de ensilagem e fenação utilizando plantas nativas da região destaca-se como uma excelente opção  por apresentar alto valor nutricional, baixo custo de produção e por ser palatável e de fácil aceitação pelos animais. Após esse trabalho espera-se que as informações obtidas possam ser multiplicadas, beneficiando também outros agricultores, e fortalecendo a maior fonte de renda deles, que é a produção animal, para a dignidade no campo e valorização da agricultura familiar. 

O trabalho foi realizado Por Montesquieu Viera, professor do INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DA PARAÍBA CAPUS PICUÍ, e parceiros, Celina da Silva Maranhão,  Luciano Azevedo e agricultores/as do assentamento.

ANDRADE. F. L. QUEIROZ. P. V. M. Articulação no Semiárido Brasileiro. ASA e programas de formação e mobilização e para convivência com semiárido: a influência ASA na construção de políticas públicas In: KUSTER , A: MARTI, J. F. Politicas públicas para o semiárido experiências e conquistas no Nordeste do Brasil, Fotaleza  fundação Konrad Adenauer. 2009.

Carporal, F.R; COSTABER. J. A. Agroecologia  e desenvolvimento rural sustentável. Porto Alegre 2021.

COSTA, M.R.G.F et al utilização do feno de forragens lenhosas nativas do Nordeste brasileiro na alimentação de ovinos e caprinos.PUBVET, Londrina, V. 5, n.154 2011.
 
Scolpinho,R. A. Sobre cooperação e cooperativas em assentamentos rurais. Psicologia e sociedade, V. 19, p. 84-94, 2007.
 
Silva, D.S. et. al. Feno de maniçoba em dietas para ovinos: digestabilidade aparente e balanço nitrogenado. R. Bras. Zotec, V. 36, n. 5, p. 1685- 1690, 2007.