Maria Emília Lisboa Pacheco1
No ano 2000, foi realizada a primeira Marcha das Margaridas2 , organizada pela Secretaria de Mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura (Contag) como parte da Campanha da Marcha Mundial das Mulheres (MMM). Sua realização consistiu em dar visibilidade ao trabalho e à contribuição econômica, política e social das mulheres rurais; denunciar e protestar contra a fome, a pobreza e todas as formas de discriminação, violência e exploração vivenciada pelas mulheres, além de apresentar propostas de políticas públicas para as mulheres do campo, da floresta e da cidade (CONTAG, 2015).
A Agroecologia passou a integrar um dos seus eixos estruturadores como estratégia política, em 2007. Nesse tempo havia espaços de participação social e monitoramento de políticas públicas como: Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (Condraf), Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Cnapo) e o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA). A participação das mulheres de vários movimentos sociais nesses conselhos, favoreceu a aproximação e interação com o movimento agroecológico.
Importante reconhecer que as mulheres estão ressignificando a agroecologia, porque trazem à tona a dimensão das relações sociais, dos direitos das mulheres e da igualdade. Exercitam o direito à autonomia e à auto-organização, falam dos sentidos da reprodução da vida e do cuidado, baseados nos princípios da economia feminista. Elas são responsáveis por grande parte da produção e são fundamentais para garantir a conservação e manejo da biodiversidade, com destaque para o resgate e multiplicação da diversidade das sementes tradicionais, para a produção variada de alimentos saudáveis. Defendem a valorização do autoconsumo, ampliando os sentidos das práticas econômicas, que vão além do valor de troca.
A Marcha das Margaridas inclui, hoje, em sua agenda, dentre outros, temas: (i) terra, água e agroecologia; (ii) por uma vida livre de todas as formas de violência e por democracia com igualdade e fortalecimento da participação política das mulheres.
Em 2011, com a presença da então presidenta Dilma Roussef, durante a Marcha das Margaridas, as mulheres reivindicaram a aprovação de uma Política Nacional de Agroecologia, que contemplasse a contribuição na redução das desigualdades de gênero, por meio de ações e programas que promovam a autonomia econômica das mulheres3
1 Assessora da ONG brasileira FASE- Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional; integrante do Núcleo Executivo da Articulação Nacional de Agroecologia e da coordenação do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional que faz parte da RedeSAN CPLP.
2 A denominação “Margaridas” é uma homenagem à Margarida Maria Alves camponesa assassinada, em 1983, a mando de latifundiários. Era presidenta do Sindicato dos Trabalhadores(as) Rurais de sua cidade.
3 Vídeo da Contag sobre os 20 anos da Marcha das Margaridas https://www.youtube.com/watch?v=mW883YU8QGA