Apresentação
A ocorrência de praga e doença em sistema de manejo agroecológico é um indicador do problema e não o problema.
Este guia apresenta princípios da agroecologia para o controle de pragas e doenças nas culturas agrícolas. O alicerce de toda a argumentação é a teoria da TROFOBIOSE: pragas e doenças raramente atacam plantas sadias e bem nutridas.
As práticas agroecológicas formam um conjunto de técnicas para a gestão de pragas e doenças em sistemas de produção agroecológicos. As práticas agroecológicas recomendadas são fundamentais para a implantação e adoção de tecnologias de sistemas de irrigação sustentáveis.
O objetivo pedagógico é a formação para:
- Apresentar as práticas agroecológicas que caracterizam o manejo preventivo de controle.
- Apresentar o uso de caldas e inseticidas naturais como forma de controle e garantia da produção de alimentos agroecológicos e orgânicos de alto valor biológico e nutricional.
I – CONCEITOS DA GESTÃO DE PRAGAS E DOENÇAS
Um dos principais problemas da agricultura sustentável refere-se ao controle de doenças, pragas e plantas invasoras. A FAO estima que entre 20 e 40% da produção anual é perdida devido a ataques de pragas e doenças. Entretanto, diversas técnicas podem ser utilizadas para minimizar o impacto criado por pragas e doenças sem recorrer a fitossanitários que causam um impacto negativo no ambiente. Essas técnicas incluem o manejo preventivo e a utilização de caldas naturais fabricadas na unidade agrícola.
Conceitos
Praga |
Qualquer forma de vida vegetal ou animal, ou qualquer agente patogênico danoso ou potencialmente danoso para os vegetais ou produtos vegetais. O conceito está geralmente ligado à existência de superpopulações destes seres, em resultado de desequilíbrios ecológicos, com prejuízos significativos para a atividade agrícola. |
Doença |
Anormalidades das plantas geralmente provocadas por microrganismos, tais como bactérias, nematoides e vírus. Podem também ser causadas por falta ou excesso de fatores essenciais para o seu crescimento, tais como nutrientes, água e luz. Estes casos são também denominados de distúrbios fisiológicos. |
Inimigos naturais |
Espécies que se alimentam de pragas (joaninhas, besouros, larvas, percevejos, vespas, formigas etc.) contribuindo para o equilibro ecológico do ecossistema. Os inimigos podem ser predadores ou parasitoides. |
Manejo preventivo |
Conjunto de técnicas de manejo dos cultivos com o objetivo de fortalecer as defesas internas das plantas, por forma a que a incidência de pragas e doenças não tenha impacto significativo na produção. |
Monitoramento |
Rotina de avaliação do nível de pragas e doenças existentes no agroecossistema com vistas a conhecer a eficácia do manejo preventivo e, se for o caso, decidir pela aplicação de caldas fitossanitárias. |
Caldas |
Preparados com base em produtos naturais que atuam para remediar doenças ou pragas, seja porque são prejudiciais aos agentes patogênicos em causa, seja porque fortalecem a resistência das plantas a esses agentes. As caldas devem ser inofensivas para o ser humano. |
Quadro 1 – Conceitos-chave para a gestão de pragas e doenças em manejo de agroecossistemas.
As causas do surgimento de pragas e doenças estão relacionadas com múltiplos fatores. De todo o modo, o surgimento de uma praga ou doença é sinal de um desequilíbrio. Eis alguns desses fatores:
- Solos não saudáveis, com limitações químicas ou biológicas;
- Aplicação de adubos excessiva ou deficiente;
- Irrigação excessiva ou deficiente;
- Baixa diversidade;
- Cultivo de plantas inadaptadas às condições locais.
II – PRINCÍPIOS AGROECOLÓGICOS DE CONTROLE
As práticas agroecológicas de controle são baseadas no equilíbrio entre plantas, solos, nutrientes, luz solar, umidade e outros organismos coexistentes. O objetivo é ter plantas resilientes de modo a tolerar estresses e adversidades.
Manter o solo e a planta saudável
O pesquisador francês Francis Chaboussou demonstrou que não é qualquer planta que é atacada por “pragas” e “doenças”. As plantas são atacadas por pragas ou ficam doentes por serem submetidas a stress causados por excesso ou falta de nutrientes, ou outros manejos incorretos. O desenvolvimento desequilibrado torna as plantas vulneráveis. A essa tese, Chaboussou chamou teoria da trofobiose:
- Trofo - quer dizer alimento
- Biose - quer dizer existência de vida
A trofobiose supõe que qualquer ser vivo só sobrevive se houver alimento adequado. As pragas das plantas (insetos) e os microrganismos causadores de doenças das plantas só podem digerir pequenas moléculas como aminoácidos. Plantas bem desenvolvidas têm poucos aminoácidos livres; a sua maioria está encadeada em proteínas de difícil digestão para esses insetos e microrganismos. Por essa razão, só as plantas com um desenvolvimento desequilibrado, isto é, com aminoácidos livres, são atacadas por pragas e doenças.
Fazer o manejo por processos
A agroecologia visa a adoção de técnicas que fortalecem as defesas internas do agroecossistema contra os ataques por espécies indesejadas, sejam elas “pragas” ou “doenças”.
Figura 1 – Abordagem convencional (à esquerda) e agroecológica (à direita) no combate ao pulgão do pepino e do pimentão.
Manter a biodiversidade
Manter a biodiversidade gera vários efeitos ecológicos positivos, para além da produção de alimentos, fibras, energia e renda. Além disso, as biodiversidade garante a reciclagem de nutrientes, melhora o microclima local e regula os processos hídricos.
A biodiversidade impede o crescimento excessivo de pragas, na medida em que os inimigos naturais das pragas controlam esse crescimento.
Essa biodiversidade pode ser melhorada para diminuir a incidência de pragas. Podem ser cultivadas plantas com o propósito de repelir certas pragas para fora da parcela; atrair as pragas para essas plantas, desviando-as da cultura principal; ou mesmo plantas que funcionam como armadilhas para essas pragas. Eis o exemplo de algumas plantas repelentes:
- Coentro: Controla pulgões e ácaros;
- Girassol: Suas folhas e flores são um excelente repelente de pragas. Também atrai insetos polinizadores;
- Citronela: É repelente de insetos, inclusive pernilongos, como Aedes aegypti.
Figura 2 – Pilares da Saúde dos agroecossitemas
III - MONITORAMENTO DE PRAGAS E DOENÇAS
O monitoramento mais eficiente de pragas e doenças é a avaliação rotineira da lavoura.
A evolução da densidade de pragas ou de plantas doentes é variável e idealmente se aproxima de um nível ou posição de equilíbrio (ver Figura ). Contudo, o produtor deve definir um nível de dano, acima do qual a densidade da praga ou a doença causa prejuízo econômico para a produção agrícola e, abaixo deste, um nível de controle. Sempre que a densidade de uma praga ou doença ultrapassar o nível de controle, o produtor deve intervir.
Figura 3 – Avaliação do nível de dano
Determinar as pragas e doenças existentes
Existem algumas formas de conhecer o grau de infestação e o potencial de dano das pragas e doenças em algumas áreas antes do plantio. São elas:
- Buscar relatos históricos de vizinhos e, onde houver, fichas de uso de produtos fitofármacos. (Observação: Registar o uso de insumos na propriedade é uma boa-prática recomendada em agroecologia e obrigatória no caso de o produtor pretender certificar sua produção.
- Observar a presença de insetos e sintomas nas plantas espontâneas.
- Fazer amostragem de solo para identificação de pragas (em cada ponto, as amostras podem ser de 30 cm de largura por 30 cm de comprimento e 15 a 30 cm de profundidade nas trincheiras, totalizando oito pontos em 1 ha);
- Utilizar de armadilhas com feromônio, luminosa ou adesiva.
Durante o cultivo, algumas destas técnicas podem ser utilizadas, em particular, as armadilhas. Alternativamente, é possível utilizar o método do pano (ver Caixa 1 abaixo) para avaliar a densidade de pragas.
Figura 4 – Tipos de armadilhas para insetos. Da esquerda para a direita: com feromônio, luminosa e adesiva.
O método mais comum para determinar a densidade de pragas em plantas é a batida de pano. Este método é realizado em cinco passos: 1. Coloque um pano branco com entre 1 a 1,8 metros de comprimento estendido entre duas fileiras de cultivo. O pano deve estar preso em duas varas. 2. Sacuda vigorosamente as plantas da linha de um dos lados sobre o pano. 3. Analise os insetos que caírem sobre o pano: espécie, quantidade, estádio de desenvolvimento (adultos ou formas jovens) etc. 4. Anote esses dados em uma ficha de amostragem, elaborada a seu critério. 5. Examine as plantas, principalmente as hastes, pecíolos, ponteiros e vagens para complementar a análise Este procedimento corresponde à colheita de uma amostragem. Em lavouras de até 10 ha recomenda-se realizar, no mínimo, seis amostragens; entre 10 e 30 ha, oito amostragens; e entre 30 a 100 ha, dez amostragens. Em propriedades maiores devem ser divididas em talhões de 100 ha. Esta análise deve ser repetida semanalmente nas épocas críticas de incidência de pragas. |
Caixa 1 – Método do pano para análise da densidade de pragas.
Avaliar os danos
Para além da amostragem de insetos, também é importante avaliar o nível das injúrias causadas nas plantas. Essa avaliação é feita comparando o nível de danos com uma escala pré-estabelecida. Existe uma escala de danos para cada praga em cada cultivo. A Figura 2 apresenta um exemplo: a escala de Davis para a lagarta do cartucho, praga de grande relevância na cultura do milho.
Figura 5 – Escala de Davis para a avaliação dos danos da lagarta do cartuxo no cultivo do milho
IV – CONTROLES ALTERNATIVOS
Quando as pragas atingem uma densidade capaz de provocar prejuízos financeiros, isto é, quando os mecanismos preventivos não foram capazes de controlar determinadas pragas, o manejo reativo entra em ação.
Em sistemas de produção agroecológicos são usados os defensivos naturais, também chamados de “alternativos”. Estes produtos são preparados a partir de substâncias não prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente, que favorecem a produção de alimentos mais saudáveis para o consumidor final.
As caldas alternativas são formulações que têm como característica principal baixa ou nenhuma toxicidade para o homem e para a natureza em geral. Além disso, são eficazes no combate aos insetos e microrganismos nocivos, não favorecem emergência de resistência desses fitoparasitas aos tratamentos, e estão disponibilidade para agricultores e agricultoras a baixo custo.
O sistema de controle de pragas e doenças em agroecologia não procura eliminar esses insetos e microrganismos, mas reestabelecer o equilíbrio entre eles e seus inimigos naturais. Por certo, defensivos naturais funcionam como repelentes, inseticidas, fungicidas etc.
A seguir, alguns exemplos de controles alternativos usados como prática agroecológica.
· Calda de pimenta-do-reino, alho e sabão A calda de pimenta-do-reino, alho e sabão é eficaz para o controle de pulgões, ácaros e cochinilhas em hortaliças (inclusive solonáceas), frutíferas, cerais e flores ornamentais. Sua preparação implica, em primeiro lugar a obtenção dos extratos de pimenta e alho. Posteriormente, estes extratos são diluídos em sabão e água para aplicação nos cultivos. · Obtenção dos extratos Para a obtenção do extrato de pimenta, coloque, em um recipiente de vidro com tampa, 100 g de pimenta-do-reino moída e um litro de álcool. Deixe em repouso por sete dias. Para a obtenção do extrato de alho, coloque, em um recipiente de vidro com tampa, 100 g de alho picado e um litro de água. Deixe em repouso por sete dias. · Preparo da calda Para o preparo da calda, coe 200 ml do extrato de pimenta do reino e 100 ml do extrato de alho. Junte os extratos coados com um litro de solução de sabão. Dilua esta mistura completando com água até atingir um volume de 20 litros e aplique sobre as plantas. Após a aplicação deve ser respeitado um período de carência de cinco dias antes de fazer a colheita. · Solução de sabão: Ferver 1 litro de água, jogar 200 gramas de sabão em barra bem picado e deixar derreter totalmente. |
Caixa 2 – Controle alternativo com calda de pimenta-do-reino, alho e sabão.
· Nim ou neem (Azadirachta indica) O nim é uma planta de origem asiática, pertencente à família Meliaceae, muito resistente e de rápido crescimento. Alcança normalmente 10 a 15 metros de altura e produz uma madeira avermelhada, dura e resistente. O óleo de nim é usado para mosca branca (Bemisia tabaci); mosca minadora (Liromyza sativae); traça das crucíferas (Plutella xylostela); lagartas em geral. O óleo de nim diluído em água com uma concentração de 0,5% da solução concentrada (0,5 litros para 100 litros de água) deve ser pulverizado sobre folhagens e frutos, quando necessário. O óleo, solução concentrada, pode ser preparado a partir das sementes ou das folhas. · Preparo com sementes Ingredientes: 50 g de sementes descarnada e 1 litro de água. Modo de preparo e uso: Ralar as sementas e imergir as sementes raladas em 1 litro de água. Deixar por 1 dia. Após o período coar material e guardar em recipiente fechado a solução concentrada. Forma de uso: Diluir solução concentrada em água na concentração de 0,5%. Pulverizar sobre a planta. · Preparo com folhas Ingredientes: 20 g de folhas e 2 litros de água. Modo de preparo e uso: Pique as folhas manualmente ou bata no liquificador. Dilua as folhas picadas em 2 litros de água e deixe repousar por 12 horas. Antes da aplicação, é necessário coar a solução em e guardar em recipiente fechado. Forma de uso: Diluir solução concentrada em água na concentração de 0,5%. Pulverizar sobre a planta. |
Caixa 3 – Controle alternativo com Nim ou Neem
ManipueiraA manipuoeira é o subproduto da fabricação de farinha de mandioca (Manihot esculenta Crantz). É um suco leitoso extraído da mandioca ralada. A manipueira é geralmente desprezada, sem qualquer aproveitamento econômico. Quando despejada sem qualquer tratamento é prejudicial ao meio ambiente devido à sua toxicidade. Contudo, a manipueira pode ser utilizada como fertilizante natural e inseticida. Este produto já revelou extraordinária eficácia no tratamento de nematóides, ácaros, insetos, fundos e formidas. Sua composição química explica a sua eficácia. Ela contém teores altos de Cálcio (227,5 ppm), Enxofre (195,0 ppm) e Cobre (11,5 ppm) que fortalecem a planta para resistir à doença. Além disso, é composto também por cianeto livre (42,5 ppm) e totais (604,0 ppm) que são tóxicos para insetos e microrganismos causadores de doenças das plantas. A manipueira é um produto versátil, podendo ser aplicado em diversos momentos do cultivo. · Preparo do solo Para prevenir os canteiros de infecções: regar usando 4 litros de manipueira por metro quadrado, 15 dias antes do plantio. · Adubo foliar Para adubar a planta, usar a manipueira diluída em água (1 parte de manipueira para 4 partes de água). Recomenda-se fazer seis pulverizações foliares, com intervalo de uma semana entre cada aplicação. · Ácaros, pulgões, lagartas Em caso de infestação de ácaros, pulgões e ácaros, usar manipueira diluída em água (1 parte de manipueira para 2 para de água). Efetuar pelo menos três pulverizações foliares, com o intervalo de uma semana entre cada aplicação. · Insetos Em caso de ataque de insetos, usar manipueira diluída em água (1 parte de manipueira para 1 parte de água). Efetuar três pulverizações foliares, com o intervalo de uma semana entre aplicações. · Fungos (oídios e ferrugens) Para combater fungos dos cultivos, diluir 100 ml de manipueira em igual volume de água. Adicione 1 g de farinha de trigo à diluição. (1 parte de manipueira para 4 partes de água). · Carrapatos em animais Para combater carrapatos em animais, dilua a manipueira com óleo de mamona em água (uma parte de manipueira e uma parte do óleo de mamona para duas partes de água. Faça 3 aplicações do preparado do sobre o dorso dos animais, respeitando o intervalo de uma semana entre aplicações |
Caixa 4 – Controle alternativo com Manipueira
Calda bordalesa:A calda bordalesa é usada para a irradicação de pragas e doenças, em particular, a rubelose, a gomose, musgos e liquens. A sua aplicação deve ser feita após a poda de retirada de galhos secos e doenças. A calda bordalesa protege a árvore nas feridas resultado da poda, além de impedir o desenvolvimento de microrganismos parasitas da planta. Ingredientes para 20 litros de calda: · 200 gramas de sulfato de cobre; · 200 gramas de cal virgem; · 20 litros de água. Preparação: A dissolução do sulfato de cobre em água deve realizada em um balde e a dissolução da cal virgem em outros. Apenas, posteriormente, as duas soluções serão juntadas. 1. Colocar um sulfato de cobre em um saco de pano ralo e emergir o saco em um balde de 5 litros de água. O cobre dissolve lentamente, mas quanto mais à superfície, mais rapidamente o cobre é dissolvido. 2. Deixar o cobre dissolvendo de um dia para o outro. 3. Em outro balde, misturar a cal com um pouco de água. A reação deve dar-se rapidamente. Se a água não aquecer em até 30 minutos, a cal não tem qualidade e não deve ser usada. 4. Terminada a reação, adicione água até completar 5 litros. 5. Misture as soluções. Atenção: é a solução de sulfato de cobre que deve ser despejada sobre a solução de cal e não o contrário! A solução deve ter uma consistência densa, pois a cal não decanta. 6. Coa a mistura e coloque no pulverizador. 7. Faça o teste da navalha. Este teste evita que a calda esteja ácida e seja prejudicial às culturas. Coloque uma gota da calda filtrada sobre uma lâmina e aguarde 3 minutos. Se, no local da calda, se formar uma mancha avermelhada, então a calda está ácida. Junte mais leite de calda até que fique neutra. 8. Aplique na cultura. |
Caixa 5 – Controle alternativo com Calda Bordalesa
Calda Sulfocálcica:A Calda Sulfocálcica é um sulfurado inorgânico cujas ações fungicida, inseticida e acaricida, funcionando ainda como adubo foliar. Sua função defensiva se deve a suas propriedades redutoras, tóxicas e cáusticas. A calda sufocálcica foi criada em 1886 para banhar animais como forma de combater a sarna. Na Califórnia foi constato o seu efeito inseticida e, a partir de 1902, começou a ser usada pelos agricultores. Hoje é considerada o melhor defensivo natural em fruteira de clima temperado. É indicada principalmente para o tratamento de inverno em plantas que perdem as folhas, no combate ao ácaro vermelho, à cochonilha branca, ao oídio, à sarna e à podridão parda. Recentemente, foi constatado que também atua como fertilizante das plantas por via foliar. Para preparar 40 litros de Calda Sulfocálcica, são necessários: · 10 Kg de Enxofre (em pó e de boa qualidade, nunca em pedra ou granulado grosso. · 7,5 Kg de Cal hidratada (ou 5 Kg de Cal Virgem, com teor de Cálcio acima de 80%). · 40 litros de água. Materiais: 1 latão de 100 litros (não pode usar vasilha de cobre); um fogão improvisado num barranco ou de lajotas; muita lenha para ferver a água; uma vasilha de alumínio para ferver água; uma ripa comprida para mexer a mistura e um Areômetro de Baumé (tipo com escala de 0 a 40° Baumé) para medir a concentração de calda. Para preparar a calda, o agricultor deve usar equipamento de proteção: camisa de manga comprida, óculos, máscara e luvas, 1.º passo: Coloque os 10 Kg de enxofre com o total da cal (virgem ou hidratada) no latão, que já deverá estar sobre o fogão. Misture os 40 litros de água até formar uma pasta. Utilize a ripa para marcar o nível da água nesse momento. 2.º passo: Mexer bem os ingredientes e aceder o fogo. Deixe a calda ferver durante 45 minutos, mexendo os ingredientes sem parar. 3.º passo: Repor a água evaporada até a marca da quantia inicial, marcada na ripa, e deixar ferver por mais 15 minutos. Para maior rapidez, reponha a água com água quente. 4.º passo: O latão é retirado do fogo e tampado, deixando a calda esfriar e decantar por uma noite. No dia seguinte, pode ser coada em peneira de nylon, malha de 0,8 mm ou menor e duas dobras, para finalmente ser recolhida com uma caneca, tomando-se o cuidado de não agitar o fundo, recolhendo-se apenas o líquido sobrenadante. O líquido recolhido deve ser imediatamente envazado em recipientes escuros, de vidro ou plástico grosso, e bem vedados para não entrar ar. Assim armazenada, na forma concentrada, sua conservação pode se dar por um período máximo de até seis meses. |
Caixa 6 – Controle Alternativo com Calda Sulfocálcica
V - CONTROLE BIOLÓGICO
O controle biológico é um fenômeno natural. Ele consiste na regulação do número de insetos e microrganismos causadores de danos e doenças das plantas cultivadas por seus inimigos naturais. Todas as espécies de plantas e animais têm inimigos naturais que limitam o seu desenvolvimento ao longo dos vários estágios de vida.
A população de insetos ou microrganismos prejudiciais às culturas não cresce a ponto de causar danos econômicos à produção sendo possível controlar pragas e doenças, ou mesmo eliminá-las, sem deixar resíduos tóxicos no solo, nem causar danos às plantas e ao meio ambiente.
Os inimigos naturais podem ser predadores ou parasitoides.
- Predadores: Organismos que consomem totalmente ou parte da sua presa que, neste caso, é a praga ou a causa da doença do cultivo. Normalmente são animais maiores que a sua presa, tais como joaninhas e percevejos (Podisus sp.).
- Parasitóides: ser que se alimenta de um outro ser (hospedeiro), ao viver dentro do seu organismo, debilitando o seu desenvolvimento, podendo mesmo causar a sua morte. Um exemplo de parasitóide é a vespa parasitóide (Trichogramma.)
Figura 6 – Foto de uma joaninha alimentando-se de pulgões à direita e um ataque de vespa parasitóide a casulos de lagarta (à direita)
Em agroecologia, devem ser usados manejos que favoreçam o desenvolvimento de inimigos das culturas. Alguns desses manejos são:
- Manutenção da biodiversidade;
- Utilização de plantas atrativas;
- Formação de ilhas ou barreiras vegetais com espécies atrativas em torno da produção principal;
- Não utilizar inseticidas ou caldas naturais de baixa seletividade.
Bibliografia
Agroadvance. Controle biológico. [Website]. Disponível em: https://agroadvance.com.br/contro le-biologico/. Acesso em: 5 Mai. de 2021.
BETTIOL, W. Controle alternativo de doenças na agricultura orgânica. Summa pathologica. Vol. 30, n.º 1, 2004. Pp. 158-160
Fundação Konrad Adenauer. Agroecologia: manejo de “pragas” e doenças. Fortaleza: Fundação Konrad Adenauer, 2010.